Direção do hospital em Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, acredita que fogo foi causado pela fagulha de um bisturi elétrico em contato com um antisséptico. Chamas não atingiram o bebê. Polícia investiga o caso.
Uma jovem de 18 anos sofreu queimaduras de terceiro grau durante uma cesariana, realizada em um hospital de Colatina, no Noroeste do Espírito Santo. O bebê não foi atingido. A direção acredita que as chamas possam ter sido causadas pelo contato de um bisturi elétrico com um produto antisséptico utilizado na paciente.
A mulher sofreu queimaduras na parte interna das pernas. O caso aconteceu no último dia 23. O parto continuou normalmente e a criança nasceu sem sequelas.
Depois da cirurgia, a mãe foi transferida para o Hospital Estadual Dr. Jayme Santos Neves, na Serra, na Grande Vitória, para tratamento. O hospital é referência em queimados no estado.
O Hospital Santa Casa de Misericórdia de Colatina informou que está apurando o caso, classificado como "episódio atípico e inesperado". Conforme a unidade, a apuração ocorre com "rigor técnico, não havendo, até o momento, qualquer indício de negligência, omissão ou imprudência por parte da equipe médica envolvida" (confira nota na íntegra abaixo).
A família da vítima registrou um Boletim de Ocorrência na delegacia de Baixo Guandu, na mesma região. Segundo o documento, a jovem deu entrada no hospital por volta de 8h, em trabalho de parto, e, próximo do meio-dia, começou a cesariana.
O companheiro da gestante estava na sala e testemunhou quando, no momento em que o médico realizou o corte para fazer a cesariana, chamas atingiram a parte interna das pernas da jovem, "causando queimaduras de terceiro grau", conforme descrito no registro da ocorrência.
Ainda segundo relatou da família, após conter o fogo, a equipe médica deu prosseguimento ao parto. A criança nasceu bem.
Já a jovem precisou ser transferida dois dias depois, em 25 de maio, para o hospital referência no tratamento de queimaduras no Espírito Santo.
Fagulha do bisturi
O diretor técnico da Santa Casa de Misericórdia de Colatina, Halis Pimentel, relatou que foi utilizada clorexidina na paciente e uma fagulha do bisturi elétrico pode ter provocado o fogo.
"Nós estamos tentando avaliar isso, se foi isso mesmo. Clorexidina é uma substância usada no Brasil todo, só que ela é alcoólica. Na hora da cesariana, o bisturi elétrico pode ter feito uma fagulha e, provavelmente, causou esse fogo que provocou a queimadura na paciente. É um evento raro, mas que pode acontecer com clorexidina. Nós estamos avaliando se tudo foi feito dentro dos protocolos", disse.
O hospital acrescentou que "está prestando toda a assistência necessária à paciente, incluindo a transferência para um hospital de referência na cidade de Serra, a fim de garantir atendimento especializado e integral, além do suporte à família, com custeio de despesas de hospedagem, alimentação e transporte do companheiro da paciente, para que ele possa acompanhá-la durante o tratamento".
A Polícia Civil informou que o caso segue sob investigação da Delegacia Especializada de Infrações Penais e Outras (Dipo) de Colatina. Foi instaurado um Inquérito Policial para apuração dos fatos, inicialmente tratados como suposta lesão corporal de natureza culposa.
Paralelamente, foi instaurada apuração administrativa/disciplinar para verificar eventual irregularidade na conduta de policiais que, segundo alegado, teriam orientado a comunicante a procurar a Delegacia de Polícia de Baixo Guandu, município onde ela reside.
O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) foi procurado e disse que "não se manifesta sobre casos concretos, a não ser nos autos. Conforme disposto no Código de Processo Ético Profissional, todos os trâmites processuais correm em segredo de Justiça".
Reforçou que toda denúncia é rigorosamente apurada. Depois que é oficialmente feita, abre-se sindicância e, após a conclusão dela, em caso de indício de falta ética, é aberto processo ético-profissional.
A Sociedade Ginecologia e Obstetrícia do Espírito Santo (Sogoes) também foi procurada e não se manifestou até a publicação da reportagem.
Fonte: G1 ES