Técnico do Vasco, Fernando Diniz analisou a vitória por 2 a 0 sobre o Cruzeiro neste sábado dia 27, em São Januário, pela 25ª rodada do Brasileirão. Em entrevista coletiva após a partida, o treinador destacou Robert Renan ao ser questionado sobre qual nome indicaria para a Seleção Brasileira.
Ah, é difícil responder a essa pergunta. Mas eles certamente estão monitorando alguns jogadores. Acho que o Vasco tem pontuado bem nos últimos jogos do Campeonato Brasileiro, mas a gente tem jogado bem praticamente todos os jogos desde que eu cheguei aqui. Muitos jogadores evoluindo. Certamente, alguns estão no radar da seleção brasileira porque é muito nítido que os atletas aprenderam a jogar jogos grandes, jogar bem. Estão decisivos na parte da frente e, agora, na parte de trás também comentou Diniz.
O Robert Renan, por exemplo, tem 21 anos. Talvez seja um dos melhores zagueiros construtores não só no Brasil, como no mundo inteiro. Desconheço jogador canhoto, com a idade dele, que constrói como ele, em qualquer liga. Veio no Inter, por conta de uma falha, saiu daqui e não queria voltar. A gente teve uma insistência muito grande para ele perceber que o melhor para ele era voltar. Além de tudo, é vascaíno. E está reconstruindo a carreira. Tenho convicção que se, não for agora, daqui a pouco ele vai retornar à Seleção. Ele já foi jogador de Seleção. Subiu com 17 anos no Corinthians, o que é muito difícil, Você lançar jogador de zaga, com essa idade, é infinitamente mais difícil. Para ficar só no exemplo dele completou.
O treinador cruz-maltino destacou, ainda, a acertividade do clube na janela de tranferências. Segundo Diniz, a paciência para trazer nomes como Carlos Cuesta, Robert Renan e Andrés Gómez foi essencial. Isso vale a pena dar uma retomada que existia uma pressa muito louca por contratação na janela. Quando fazemos de uma maneira muito apressada, ainda mais sem dinheiro e sem chance de erro quase nenhuma, acabamos errando. Fizemos as contratações muito mais para o fim da janela do que para o começo. Eu sempre era questionado de contratação. E não é fácil contratar bons jogadores. No fundo, o Vasco e a torcida querem bons jogadores. Foi um esforço contínuo de muita gente trabalhando. Felipe, eu, pessoal de análise, o Admar. Foi um monte de fatores que fez com que a gente chegasse a esses jogadores. E muito esforço pessoal de ligar, ligar de novo, insistir. O Admar viajar, o Felipe se reunir com o pessoal da análise o tempo todo disse o técnico do Vasco.
Esse trabalho conjunto e sempre com esse receio de errar na contratação - porque temos que ter para errar menos - acabamos acertando. Não só nesses dois, mas fizemos uma janela muito boa. Com poucas contratações, mas assertivas. O Andres foi uma contratação muito boa, todos têm contribuído. O Matheus França está entrando em condição, é um jogador muito talentoso. O Thiago Mendes está agora se recuperando da lesão, tem um histórico muito importante no futebol e esperamos que fique em forma o mais rápido possível. As contratações foram muito bem feitas, com cuidado e trabalho conjunto de muita gente concluiu.
O nosso time também tem transição ofensiva boa. No fundo, era saber que eles (Cruzeiro) têm a transição, são 12 gols no campeonato de transição ofensiva e 12 de bola parada. Muito provavelmente, é o time com mais gols nesses quesitos. A primeira coisa era saber perder a bola e saber, em alguns momentos, parar o jogo. Quando não conseguir parar, deixar o jogo mais lento. Se nem uma nem outra coisa, proteger a profundidade. Acho que conseguimos fazer esses três itens, meio que eliminando as chances do Cruzeiro de atacar a profundidade e fazer transição muito rápida. A coisa mais importante que aconteceu hoje foi essa conexão com a torcida. (São Januário) cheio, o time jogou junto. O time foi tão bom quanto a torcida. Essa conexão faz o Vasco ser muito mais forte. Espero que a gente consiga ter cada vez mais consistência, e a torcida goste cada vez mais do que a gente vai fazer dentro do campo.
Efetividade na transição após substituições e importância de Coutinho
Acho que é porque foram todos jogadores muito rápidos. Um jogador de construção, que é o Nuno, e o Vegetti que é um finalizador (os substituídos). Entraram dois jogadores que têm boa técnica, jogadores de drible e de velocidade. Ganhamos, obviamente, mais projeção para o ataque com o time mais vertical. Não ganhamos mais controle. Quando a gente tinha espaço para explorar as costas, conseguia conectar o passe mais para frente e os jogadores conseguiam dar mais solução para a gente avançar de maneira vertical mais rápido.
Definitivamente, ele vai entrando no radar da Seleção. O Coutinho é um jogador que tem genialidade, e são poucos os que têm isso. Ele tem genialidade, está ficando com a forma física cada vez mais apurada. Todo mundo sabe que eu sou um cara que dá muito treino, e o Coutinho é um dos que mais treina. Tudo que a natureza falava e os aspectos normativos da fisiologia sugeririam ao Coutinho, nós estamos fazendo ao contrário. O Coutinho era poupado de treino e jogo. Hoje, ele treina e joga quase mais do que todo mundo. Às vezes eu tiro em jogos de caráter diferente. Hoje, jogou até os 30 do segundo tempo, e bem. O fato de a gente poder contar com um cara como o Coutinho facilita muito as coisas. O adversário respeita, o time fica mais confiante, e ele tem lampejos que não são coisas treináveis. Hoje ele fez uns cinco lances dos mais bonitos. É corta-luz, é toque de calcanhar, mudança de direção, enfiada de bola, drible. Ele é um cara que tá entrando em uma forma que, se continuar assim, é um postulante cada vez mais claro para disputar a Copa do Mundo.
Vegetti
O Vegetti é o nosso capitão e artilheiro. Tem uma conexão muito sólida com a torcida. Foi muito importante desde que chegou e continua sendo. Entro no jogo de hoje, foi importante. Quando o resultado não vem, queremos arrumar um culpado e acham o culpado errado. Mas o Vegetti é muito importante na parte tática para mim desde que cheguei aqui. Cumpre as funções sem a bola com muita precisão, não tem preguiça para fazer e tem saúde, embora com 30 e altos anos. De fato foi muito importante na disputa da bola longa, da marcação, na recomposição do time, estava sempre disposto a ajudar em todos os instantes.
Disputa entre Puma e Piton e inversões do uruguaio
A tendência é eu colocar os melhores jogadores para jogar. Vou fazer isso sempre na minha carreira inteira. Quando não der para colocar os melhores, é porque não deu mesmo. Não sou um cara preso a uma posição. Se tenho quatro meias que estão brilhando e os atacantes não estão bem, vão jogar os quatro meias. O São Paulo jogava praticamente com quatro meias no ataque durante muito tempo. Eu não tenho essa fixação só pela posição. Quando todo mundo voltar e estiver bem, vão entrar os melhores. Às vezes não encaixa porque tem jogadores com posições sobrepostas e você não consegue encaixar porque está todo mundo muito bem. Mas sempre que eu puder vou colocar os melhores para jogar.
Não foi só o Puma (na jogada do gol). Ele fez a inversão porque bate muito bem na bola e tem uma inversão facilitada porque chega com um pé direito e essa diagonal longa se oferece a ele. Mas o Robert Renan fez pelo menos três inversões, tem essa característica. Hoje temos mais essa bola longa do lado de cá do que do lado de lá. O Paulo Henrique não é um jogador de fazer bola longa, é mais de condução. O Cuesta também. O Hugo Moura faz boas inversões, Coutinho, Barros. O time tem bastante jogador que bate bem na bola e podemos usar esse artifício.
Vasco soube sofrer contra o Cruzeiro?
Não é que a gente soube sofrer. Quando a gente baixou, o Cruzeiro é um time que gosta de muita profundidade. Quando a gente não conseguia encaixar rápido, a gente tinha que descer mesmo. Não é o jogo do Cruzeiro, que ele se sente mais confortável, não é um jogo empurrando o adversário para trás com muita posse. É um time muito vertical. Quando a gente baixou o bloco, a gente quase não sofreu. Não lembro de o Cruzeiro ter tido uma grande chance nem de o Léo Jardim ter feito uma grande defesa. Hoje existem, nas estatísticas mais apuradas, a expectativa de gol. Não houve expectativa de gol mais importante para o Cruzeiro. Não finalizaram quase dentro da área. Quando tínhamos a bola na área para finalizar, tínhamos muito mais gente do que eles. O time soube se defender bem, não é que soube sofrer.
A gente não sofreu no jogo. O que faltou um pouco para o time foi ter mais controle da posse. Acho que poderíamos ter tido, em determinados momentos, mais circulação da bola. Estávamos alongando sem ter gente para disputar ou pegar a segunda bola. Outro problema do time foi que, no primeiro tempo, perdemos quase todas as segundas bolas, e foi essa perda que fez o Cruzeiro ter mais volume. Não foi porque nos empurraram para trás, a gente foi aonde tinha que ir e conseguiu se defender bem de um time que é muito bom, bem treinado, com jogadores que são muito talentosos. É o caso do Matheus Pereira, do Kaio Jorge, entre outros. (Cruzeiro) é um time que está com a confiança lá em cima. Um jogo grande, em que a gente soube usar todos os recursos que havíamos treinado para poder aumentar nossas chances de vencer.
O que falou para Hugo Moura quando ele saiu de campo com dores?
Eu falei para ele voltar (risos). Tomara que a gente continue rindo no dia que perder. E não crie aquela polêmica de "Olha, foi estourado, mal-educado". Essas coisas não mudam. Mas esse relativismo moral que a gente gosta de fazer o espetáculo para fora. Se aquilo é errado, é errado hoje na vitória. Então, não é motivo de riso. Não é por causa da vitória. O que é certo é certo. E o meu jeito é esse. Sou assim com o Rayan, com o Hugo Moura. Eu nunca levantei minha voz com jogador para prejudicar, muito pelo contrário. A minha vida é de dedicação plena para os jogadores e para os torcedores. Quando eu faço um gesto assim, os atletas entendem que é sempre para o melhor. Ali, eu não preciso me fazer de super educado para agradar uma plateia externa. Sou conectado com o jogador de uma maneira que me permite isso. Tanto é que o Hugo voltou e continuou. Se fosse outro tipo de comissão e outra relação, sentiu um pouco e sai do jogo. Eu tenho um limite diferente de levar o jogador e me relacionar com departamento médico.
Motivo para substituir Vegetti naquele momento
O jogo estava ficando com muita transição. Tirei o Vegetti e o Nuno. Estava com a cara muito mais do Andrés e o David para o jogo de hoje. Por isso, quis substituir aquela hora, não quis esperar muito. Para a gente aproveitar o Vegetti, temos que ter posse no ataque para ele terminar os lances e ter mais chances de fazer o gol, um cara artilheiro. Isso não estava acontecendo, vi que não ia mudar muito mais o cenário. Achei que teríamos mais chances de não levar o gol e fazer o segundo.
Momento do Vasco
Eu acho que isso é fruto de persistência e de um bom trabalho. Quando os resultados não acontecem e o time tem performance, às vezes tem uma histeria externa de que as coisas estão erradas. Se calha em um momento desse de jogar mal e perder, aí está tudo errado. Acho que fomos e continuamos construindo muita coisa no Vasco. E com o trabalho de muita gente. O Vasco tem um material humano que certamente é um dos melhores do Brasil. Parte médica, fisiologia, massagistas, nutrição, cozinheiro. É uma comunidade que trabalha de maneira diferente. Esse é o maior patrimônio do Vasco hoje interno. Eu tenho experiência no futebol de muitos anos como jogador e treinador, e é um ambiente diferente e de pessoas muito capazes. Conseguimos elevar o nível dos jogadores do lado de fora e de dentro. Trabalhamos muito.
Eu sou um cara que exijo muito. É bom falarmos do estafe porque o futebol não se resume ao treinador e ao jogador. Tem muita coisa envolvida e um time com muita dificuldade de dinheiro. Conseguimos fazer coisas diferentes. A torcida é o maior patrimônio, é diferente. Quem vem jogar aqui sabe, não é comum jogar com uma torcida dessa. Sempre tento fazer essa conexão porque é muito importante conectar a arquibancada com o time. Quando começa a acontecer como aconteceu hoje, fica mais fácil. É como se a torcida entrasse no campo. Como se tirasse gol ou ajudasse a fazer. Temos de trabalhar muito para isso seguir. E quando falo do trabalho de todo mundo, tem duas pessoas pouco citadas: o Clauber (Rocha, gerente de futebol) e o Felipe Maestro. São duas pessoas essenciais para o meu trabalho, chegam 7h comigo no clube. Saímos de lá 16h, 17h. Ninguém vai lá brincar. Chegam lá e trabalham, conversam com os jogadores. Na época de contratações debatem sobre os nomes, falam do dinheiro.
Por que está dando certo? Porque muita gente está trabalhando de forma consistente, sem afrouxar e nos momentos de maior pressão é todo mundo mais junto e conectado. Obviamente a maior parcela de responsabilidade é dos jogadores. Quando as coisas ficaram com mais pressão, eles souberam se juntar. Quando tem pressão externa ou você afrouxa ou fica mais junto. Não fica igual. E esse time está aprendendo a ficar cada vez mais conectado.
Convite para torcida continuar lotando estádio
Se eu pudesse ter o estádio sempre cheio, a energia é muito boa da torcida. Quando eu vinha jogar aqui, no fim da década de 90 e início de 2000, talvez o auge da história do Vasco, jogar contra já era gostoso. Tanta a energia que tinha no estádio. E isso me marcou muito. Uma das vontades que eu tinha de trabalhar no Vasco era essa coisa que eu sentia da torcida. Estando aqui, é muito bom. O convite está sempre feito para eles comparecerem. Hoje, tenho convicção que ajudaram muito o time em todos os momentos do jogo. Foi uma dobradinha de muito brilho.
Vasco entra mais concentrado contra times da parte de cima da tabela?
Se você perguntasse um mês atrás, responderia até que poderia ser. Nesse momento, tenho convicção que não. O Vasco entrou concentrado porque os jogadores ganharam mais consciência daquilo que tem que ser e que o maior adversário a ser vencido é o próprio Vasco. Estávamos quase encostados na zona de rebaixamento desde que eu cheguei. Não interessa se é o Cruzeiro, o Flamengo, o G-6, o time que está lá embaixo, o Vitória ou o Juventude. O Vasco o concorrente maior é ele com ele mesmo. Tínhamos de sair de lá. Não ligamos para o adversário. Trabalhamos, sabemos que o adversário tem seus alcances de maneira privilegiada, o time do Cruzeiro tem poucas limitações, tem mais coisas positivas, assim como o Flamengo e o próprio Bahia. Contra o Ceará o que aconteceu foi uma desmobilização que não pode acontecer. Aquele jogo com o Botafogo foi uma descarga muito grande de energia e ficamos com pouco tempo para recuperar.
Contra o Ceará nós desconectamos não por conta do Ceará, mas de um saber ganhar do Botafogo e ganhar no jogo seguinte. Foi o que aconteceu do jogo do Flamengo para o Bahia e para hoje. Isso foi um aprendizado que o time vai tendo. Não é uma coisa comum. Agira temos que ir escapando dessa zona de baixo para depois começar a olhar para a parte de cima da tabela. O Palmeiras vamos nos esforçar da mesma maneira. Sabemos que jogar lá é muito difícil e no Allianz é mais ainda. Campo de grama sintética, mais rápido, os caras molham muito o campo. Um aproveitamento grande. Vamos preparar da melhor maneira para ir a São Paulo e fazer uma boa partida.
Barros fora contra o Palmeiras
Infelizmente, ele tomou o cartão. Concordo que a dupla de volantes está muito bem, ele com o Hugo Moura. A gente tem a volta do Tchê Tchê, pode ser que volte o Thiago (Mendes), tem o Mateus Carvalho. A gente tem alguns dias para ver quem vai ser a melhor opção para entrar contra o Palmeiras.
Condição do Piton
Ele teve uma lesão que a gente, a princípio, achou que não ia ser muito grave. Não é grave, mas a gente achou que ia levar menos tempo. Acabou levando um pouco mais. Ele ainda vai começar o processo de transição. O Piton, para quarta-feira, não tem condição. Acho que ele vai estar apto a voltar, provavelmente, depois da data Fifa.