O mercado de trigo no Sul do Brasil mantém postura cautelosa, enquanto produtores e moinhos aguardam informações mais precisas sobre a safra nova e a qualidade dos grãos. De acordo com a TF Agroeconômica, a resistência dos vendedores em aceitar preços atuais pode impulsionar temporariamente os valores, contrariando a tendência natural de queda.
No Rio Grande do Sul, as cotações variam conforme qualidade, localização e prazo de pagamento: cerca de R$ 1.350,00 posto moinho em Porto Alegre, Canoas e Serra, e R$ 1.320,00 na região central do estado. Para negócios pontuais, o valor chega a R$ 1.280,00 para embarques em agosto com pagamento em setembro.
Em Santa Catarina, o abastecimento depende principalmente do trigo gaúcho, com mercado travado e compras pontuais. Os preços pagos aos produtores oscilaram entre R$ 72,00 e R$ 78,00 por saca, enquanto o trigo gaúcho era cotado entre R$ 1.330 e R$ 1.360 FOB, mais frete e ICMS. No Paraná, o mercado spot permanece lento, com pequenas transações de trigo paraguaio e preços recuando levemente para R$ 1.400 CIF.
Safra gaúcha e exportações movimentam o mercado
A safra nova do Rio Grande do Sul já movimentou cerca de 90.000 toneladas, sendo 60.000 toneladas destinadas à exportação e 30.000 para moinhos locais. O trigo argentino para dezembro é oferecido com deságio de US$ 10 por tonelada em relação ao spot, devido à expectativa de maior disponibilidade no final do ano. No mercado de exportação, os preços caíram para R$ 1.250,00, com opção de entregar trigo de ração com deságio de 20%, mantendo os moinhos ausentes das negociações.
No Paraná, a atualização dos preços aos agricultores indica recuo médio de 0,23%, para R$ 75,87/saca, frente a um custo de produção de R$ 72,89, reduzindo o lucro médio para 4,09%. Entretanto, o mercado futuro aponta oportunidades de ganhos em torno de 32,1%. A chegada de geadas e novos volumes de trigo argentino mantém os agentes atentos às tendências de preço e qualidade.
Pressão das importações e estoques elevados
O mercado interno segue pressionado pelo avanço das importações e estoques elevados. Segundo a CEEMA, a média de preços no Rio Grande do Sul ficou em R$ 69,88/saca, enquanto no Paraná as cotações variaram entre R$ 75,00 e R$ 76,00/saca.
A competitividade do trigo argentino e paraguaio aumenta a pressão sobre o produto nacional. Apesar de o USDA ter reduzido a projeção de safra da Argentina para 19 milhões de toneladas, analistas locais estimam acima de 20 milhões. No Brasil, a Conab projeta a produção entre 7,5 e 7,8 milhões de toneladas, com área plantada de 2,55 milhões de hectares, 16,7% menor que no ciclo anterior, mas com produtividade estimada 19% maior.
No Paraná, moinhos negociaram trigo CIF entre R$ 1.300 e R$ 1.350/tonelada, enquanto o cereal argentino e paraguaio foi ofertado entre R$ 1.250 e R$ 1.450/tonelada. O cenário é reforçado por geadas recentes, que podem reduzir a safra em Paraná, São Paulo e Paraguai, com potencial quebra de até 250 mil toneladas, mas os preços permanecem pressionados devido à forte oferta externa e ao câmbio valorizado.
Condições do plantio e perspectivas do mercado
O plantio e o desenvolvimento das lavouras seguem em ritmo mais lento no Rio Grande do Sul, com apenas 4% das lavouras em floração até meados de agosto. No Paraná, 81% das lavouras estão em boas condições, indicando potencial produtivo, ainda que o mercado interno continue travado.
O cenário aponta que o trigo brasileiro continuará enfrentando dificuldades para competir com as importações, mantendo os preços sob pressão e limitando a rentabilidade dos produtores no curto prazo.
Fonte: Portal do Agronegócio