SANTA MARIA DE JETIBÁ - Etiqueta em pomerano ajuda pacientes do SUS a entenderem remédios e aumenta adesão a tratamento em 80%

Embora tenha nascido no Espírito Santo, parte da população de Santa Maria de Jetibá usa o pomerano como língua materna. O idioma é comum no dia a dia dos moradores e é até ensinado em escolas.



Etiqueta traduzida para o pomerano muda atendimento de saúde em Santa Maria de Jetibá

Uma etiqueta usada para traduzir a dosagem correta de medicamentos do português para o pomerano aumentou em 80% a adesão a tratamentos de moradores de Santa Maria de Jetibá, na Região Serrana do Espírito Santo. Alguns dos pacientes, que se comunicam melhor naquele idioma, entenderam pela primeira vez as recomendações escritas pelos médicos e como usar os remédios.

Embora seja uma etiqueta simples, feita no computador e impressa na própria unidade de saúde da cidade, a ideia transformou o cuidado com os pacientes. A iniciativa foi da médica de um posto, Marcella Lima, com o apoio das enfermeiras que trabalham no local.

“Vimos que a adesão estava muito baixa, principalmente das comorbidades que são comuns, que é hipertensão e diabetes, mas que geram riscos a longo prazo absurdos”, explicou a médica Marcella Lima.

Foi o caso da Amália, de 76 anos, que entendeu pela primeira vez o que diz o rótulo do remédio que toma todos os dias para controlar hipertensão.

Enquanto é consultada pela médica, uma funcionária da unidade traduz o que é falado para a paciente. Em seguida, no momento em que a medicação é prescrita, as etiquetas são colocadas nas caixas para facilitar o entendimento.

As informações em pomerano trazem dados como dosagem, tempo de uso dos medicamentos e contra-indicações.

"A melhora foi absurda. A gente tinha 30% de hipertensos que seguiam o tratamento e foi para mais de 80% de adesão. Quando a gente fala de adesão de medicação, a gente fala de redução de danos", completou a médica.


Influência da imigração

Santa Maria de Jetibá carrega uma forte influência da imigração pomerana. A chegada de famílias vindas da Pomerânia, no século XIX, deixou marcas profundas na cultura local.

A língua ainda é preservada e ensinada nas escolas, garantindo que as novas gerações mantenham viva a herança dos antepassados.

Em algumas comunidades, há moradores que praticamente não falam português, usam o pomerano no dia a dia, em casa e no trabalho. Por isso a importância desse projeto.


Desafio e inovação na saúde

A falta de compreensão do português representa um desafio para o acesso à saúde. Sem entender plenamente as orientações médicas, muitos pacientes acabam abandonando ou seguindo de forma incorreta o tratamento.

Foi diante dessa barreira que iniciativas como a das etiquetas surgiram, provando que falar a língua do paciente é, muitas vezes, o primeiro passo para melhorar a saúde primária.


Para o diretor-geral do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPI), Érico Sangiorgio, as etiquetas são um exemplo de como a inovação na área da saúde pode reduzir barreiras.

"O Espírito Santo, apesar de ser pequeno, é muito diverso do ponto de vista cultural. O objetivo é reduzir barreiras para que a gente consiga oferecer saúde para toda a população capixaba", afirmou.

Ele lembrou que a inovação não precisa estar ligada apenas à tecnologia de ponta. "A gente sempre fica imaginando que inovação é algo tecnológico, através de processos complexos, mas aqui a gente está falando de coisa simples, que muda a vida do paciente", finalizou.



Médica mostra como a etiqueta em pomerano é feita para ajudar pacientes de Santa Maria de Jetibá, no Espírito Santo — Foto: Reprodução/ TV Gazeta


FONTE: G1


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