Setor busca crédito, novos mercados e articulação para enfrentar pico da safra
Desde 6 de agosto de 2025, frutas frescas brasileiras passaram a pagar uma tarifa de 50% para entrar nos Estados Unidos, um dos principais mercados para manga e uva em períodos estratégicos de safra. Segundo a professora da Esalq/USP e pesquisadora da área de hortifrúti do Cepea, Margarete Boteon, embora a Europa continue sendo o principal destino das frutas brasileiras, o mercado norte-americano cumpre papel fundamental em períodos de maior oferta, ajudando a evitar excedentes e a sustentar preços internos.
O suco de laranja foi poupado da sobretaxa de 40% aplicada pelo governo norte-americano, mantendo a tarifa de 10% mais US$ 415 por tonelada. A decisão gerou alívio imediato à indústria, que rapidamente restabeleceu os preços.
Impactos imediatos: fruticultura em alerta
As exportações de manga e uva, principais frutas frescas enviadas ao mercado norte-americano, devem ser parcialmente mantidas em 2025 para cumprir contratos já firmados. Essa estratégia evita, por ora, um colapso nos preços internos.
No entanto, o pico da safra entre setembro e outubro exige atenção redobrada, já que a concentração da produção pode gerar excedentes no mercado doméstico e pressionar a rentabilidade, especialmente de pequenos e médios produtores.
Gengibre e outros segmentos também sofrem pressão
Além das frutas, setores como o gengibre, produzido majoritariamente no Espírito Santo (75% da produção nacional), enfrentam dificuldades. O redirecionamento para a Europa já começou, mas produtores relatam cancelamentos de pedidos, queda de preços e riscos de prejuízo para cerca de 3.500 famílias que dependem da atividade.
Estratégias para enfrentar o tarifaço
Lideranças do setor e entidades como a Abrafrutas destacam a necessidade de uma ação em duas frentes:
Negociação direta com importadores norte-americanos, buscando diluir custos e manter contratos. Apoio emergencial do governo brasileiro, incluindo crédito subsidiado, prorrogação de custeios e restituição acelerada de impostos.
Outra recomendação é fortalecer campanhas de marketing para ampliar o consumo doméstico, diversificar mercados na Europa, América do Sul e Ásia, além de ajustar o calendário de colheita e logística para reduzir custos.
Suco de laranja escapa do pior cenário
Graças à forte organização institucional e à relevância do setor no mercado global, o suco de laranja brasileiro foi excluído da sobretaxa. Ainda assim, subprodutos da indústria seguem tarifados em 50%.
Segundo a CitrusBR, a exclusão só foi possível devido ao alinhamento entre empresas, governo e importadores, que demonstraram a interdependência entre Brasil e EUA: cerca de 60% do suco consumido nos EUA vem do Brasil.
Perspectivas para 2025
Apesar das dificuldades, especialistas avaliam que não haverá colapso imediato das exportações de frutas brasileiras para os EUA. A manutenção parcial dos embarques, aliada a mecanismos de suporte no curto prazo, será fundamental para:
Equilibrar a oferta interna,
Garantir liquidez financeira,
E preservar a presença brasileira no mercado norte-americano.
O desafio central, no entanto, permanece: diversificar mercados e sustentar a competitividade da fruticultura nacional diante de um cenário de incertezas comerciais e geopolíticas.
Fonte: Portal do Agronegócio